terça-feira, 14 de outubro de 2008

UM CONTO RÉS


Anastácio Batto era peão de estância, servidor d’O Coronel Gaudêncio lá pelas terras da Arcádia. Gaudêncio já tinha um passado, gerações de ladrões de mula e escravos, Batto o admirava com reverência-resignada.

Foi arregimentando gado que conheceu aquele guri lá das bandas da capital, perto de Olímpia. Pirralho-pivete, aquele tal de Hermes, Mercúcio Mercúrio de los Hermes, nome quase-completo. Alcunhas não lhe faltavam.

Anastácio, entre a sedução e o oportunismo, fez troca, cambio, escambo com aquele garoto esperto, articulado, mestre na fala e nato em falcatruas. Trocou por bezerra, silêncio-omertà. Calado lucrou churrasco e festança. Virou lápide, calado eternamente.

De los Hermes segue carreira-mascate. Tocando sua lira e flauta, seduzia, trambicava. Marqueteiro de nascença refez imagem: “PROTETOR dos REBANHOS”.

E como mascate, viajado e culto, entre prosas e chinas, era trovado como herói. Tudo papo, fachada, era mesmo um pivete. Seu meio era uma mensagem, propalavam.

Em cada povoado, cada vila da província, tinha um lugar para seu culto. Venerado tanto pelos produtores como por seus atravessadores. Larápios-coronéis, corsários-servos. Trovadores, oradores, e toda sorte de falantes o idolatrava.

De fachada em fachada, máscara aumentava. Tão grande e pesada ficou que comadre
Sibila, bilheteira do Cinema Apolo, previu: “UM DIA ELA CAI”.

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